terça-feira, 31 de julho de 2012

SER ASSOMBRAÇÃO


Amordaçadas sombras quietas
Onde a brisa despedaça sentidos
Imagens sem luz despertas
Adormecem em fiapos desprendidos
De lentas impetuosidades abertas
Na sombra escura do sentir
Onde jazem esquecidos
Sem poder fluir

Fluem escuridões altaneiras
Sombras prostradas no chão
A luz de alucinações fiandeiras
Tecida no tear da solidão

Fiapos tombam negros na calçada
Por entre gigantes de cimento
A rua adormecida na madrugada
Serena a ilusão do pensamento
A negra pedra sombra clareada
Sombras estáticas da agitação
A negra sombra do esquecimento
Na escura dormência azulada
Dorme no desassossego da inquietação
Como se o silêncio fosse nada
A luz uma sombra em movimento
Em toda a sua forma desesperação
E o sentir aquietando o sentimento
Por dentro essa força iluminada
Na calçada do ser assombração
musa 

sexta-feira, 20 de julho de 2012

VELHO FALADOR


Ao grande MESTRE DA HISTÓRIA DE PORTUGAL
Professor JOSÉ HERMANO SARAIVA

VELHO FALADOR

Ainda estou triste
Perde-se no tempo o seu amor pela História
Manter viva pela sua voz
Em esplendor e glória
O que de mais intimo de nós
Se pode contar

Quebrar o silêncio e a solitude
Voz em pranto derramada
Dos segredos a inquietude
História que ainda pode ser contada
Mestre que por paixão
Nos veio a ensinar
Que lendas com ou sem razão
São para se contar
Com a voz no coração

Assim fazia o Mestre
Contando para nós
Tanta a paixão que punha na voz
Que o mistério mais agreste
Perdido no tempo
Vinha na claridade do seu sentir
Fluía leve no seu sentimento
Pela eloquência das palavras vivas
Desmembrava feitos históricos velados
Alguns por certo imaginados
Outros tantos evocados
Nas suas interpretações esquivas
Arredondava o pensamento
Algumas já perdidas
Leves como o vento
Enobrecia as gentes
A História faz-se de homens e feitos
Fatos concretos e diferentes
Bravos heróis os eleitos
Fica imortal
Velho falador
Jamais esquecido
No mundo e em Portugal
Nobre conquistador
Pátria das palavras
Historiador vivido
Presto-te homenagem
Pelo sentir da Poesia
ADEUS nessa viagem
Que todos faremos um dia
musa

quarta-feira, 18 de julho de 2012

OSSOS E PÓ


“Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos”
Capela dos Ossos – Convento de S. Francisco em Évora

Atravessei a eternidade
Ossos e pó
Ninguém há-de entender
Este ser extinto
Transbordada insensibilidade
Ser instinto
Poeira de fragmentos
Covil de dúvidas e incertezas
Tantos caminhos percorridos
Insensatos sentidos
Morte lenta
Eterno sentir
Lamentos
Onde compreensão assenta
Num amontoado de pó
E a alma espirito afugentado
Percorre os caminhos sem dó
Do corpo ser apanhado
No limbo do nada
Em terra fria
Na sepultura cavada
De carne vazia
Ossos e pó
Na parede sombria
De caídos ombros
Estilizado
Jaz o ser
Eternizado
Escombros
musa


ALEGRE TRISTEZA


Florescem camélias roubadas
Nos teus olhos lacrimosos
Num Inverno do teu sentir

Alegre tristeza
Essas lágrimas choradas
Que num sorriso pude consentir
Em pétalas de doce beleza

Faz calor
E trago gélidos dias
Florescências de um antigo torpor
Em pétalas de fantasias
Num choro dor

Passo a passo deixo cair
Camélias desfolhadas
Lágrimas salgadas
De caules chorosos
Que não chegaram a florir

Faz frio
Trago o estio ardente
Cálido terno Verão
Num peito fechado de sentidos
Que se forma humedecido rio
Nesta dor dormente
De insensata paixão

Pétalas de sonhos perdidos
Desfolho uma a uma todas as lágrimas
Já nem sei o que sinto

Penas… eram só penas
Penas e não pétalas negras
Como umas asas de sedas
Tecidas de lágrimas tombadas
Entrando um anjo pela tua janela
Já de longe me acenas
E vais embora
Com essas pétalas roubadas
Deixando-me esta dor que se demora
E que assim fico com ela
Como quem a sorrir chora
E guarda nas páginas do livro da vida
Tão colorida pagela
Em triste despedida
Amor extinto

Que já longe pressinto
Era um amor florido
O mesmo que consinto
Já distante perdido
Como a mais bela flor do meu sentir
Em refrescada quentura
A mesma loucura
Que me fazia sorrir
E chorar de alegria
O mesmo querer
Flor poesia
Intenso sentir sentindo
Esse doido prazer
Florindo
Com que fiz amor um dia
musa

segunda-feira, 16 de julho de 2012

BRIGA DE MENINOS


No Museu em Évora... Há uma cópia dos "Meninos a lutar" do escultor Teixeira Lopes na Casa Museu http://gaianima-por-nos.blogspot.pt/2011/01/casa-museu-teixeira-lop...

BULHA

Inocentes anjos de alabastro
Na pedra como na vida real
A força da bulha como um mastro
Erguidas forças em pose colossal
A força vinda de um astro
Num rosto celestial
Doce magistral
Sentimental

Trio de inquietude
Esperanças
Mas são apenas crianças
De rosto birrento
Impossíveis
Sem escolher o sentimento
De natureza irresistíveis
Num sorriso de contentamento
Belo sentir
E tudo o que se possa descobrir
Neste enlace de pedra e sentidos
Em que a pedra parece bulir
Em todos esses gestos comprometidos
Num belo e doce sorrir

São três anjos em inocente briga
Que nenhum deus castiga
Tal é a transparência
Porque são feitos de pureza
E na mais estranha beleza
Se talha a inocência
...
musa

PEDRA BRUTA



No âmago de pedra
sentes-me escondida
pirâmide monumental
rachada fendida
desvendado oculto
adentro sepulcral
Na pressa sentida
Forma vulto

Mas... sou tão livre edificada
na tristeza resguardada
ergo-me pedra feita alegria
que somente tua poesia
me reconstrói de ruínas
e me lima as esquinas
perdidas no tempo

Pedras âmago cerne e o silêncio...
Fechado fica o pensamento
Ufano desordenado
Mundano desocupado
aberto de fendas em mim
Escorre na pedra bruta
esse sentir sem fim...
...
musa

JAZZ BLUES POEMA



Por dentro a arritmia de um blues
sangrado nos lábios de um jazz
desses temas que um dia compus
qual desabafo do palato do sentir
um som quase a sorrir
uma lágrima poema

Por fora olhares deliciados
com a melodia chorosa
dedos apertados
suavemente na corda
onde lábios sangrados
tocam a música que acorda
choros sorrisos e sentidos
num jazz blues feito poema
tons melodiosos perdidos
do teu olhar que acena
para os meus consentidos

Dentro e fora
há essa melodia
que demora
a tua boca
meio louca
Poesia
...
musa

PLANURA DO SER


Faluas ondulantes de searas de estio
Campos doirados de árvores velhas
Paisagem alentejanas de Minotauros domesticados
Sonhos fantasiados em enlace bravio
Na terra agreste da cortiça em selhas
Sobreiros perdidos na tricana flor de botões desabrochados
"Évorae" casario branco de cor em telhados vermelhos
No pranto estéril do tempo onde os velhos
Descansam memória à sombra dos chaparros
Perde-se na história a água bebida dos tarros
Onde a sede morre solidão
E a fome vive da razão
Guarda-se o sentido em doce sombreado
Se o Ser
Bucólica avenida em tapete de Arraiolos pintalgada de papoilas e margaridas
Se o Ser
Melancólica natureza surpreendida de sol e sombra em dança de sentidos
Se o Ser
Esta aventura em desafio onde palavras consentidas são caminhos consentidos
Há um rio em mim
Na planura secura do Ser
Onde o começo é o fim
...
musa

sexta-feira, 13 de julho de 2012

SÓ QUERO QUE SEJA UMA MENINA



Com alguma emoção, sem capacidade de resposta, ouvia-o dizer como ficaria feliz se ela estivesse grávida, arrepiava-se com esse seu consentimento transparecido sincero e emotivo, embebecida de orgulho por conhecer e sentir e saber como ele era uma pessoa especial na sua vida.
Queria contar-lhe de uma outra mulher, fazê-lo interessar-se por ela e ele pedia-lhe um filho, forçando-a a aceitar esse seu sentimento desmedido como quem promete eterno amor até que a morte separe vidas terrenas, na longevidade das almas tidas eternizadas para além do ser e dos sentidos.
O relógio biológico hormonal feminino seguia a sua função organizadora de estados emotivos fazendo trepidar corpo e mente, agora que estava mais próxima dos cinquenta, imaginava como seria viver uma gravidez que em tempos tinha sido tão desejada, no seu corpo de mulher evolutiva em tentações e fantasias, no seio de um tempo que ainda que atrasado, se comprometia a ser uma vivência feliz com a paixão da vida partilhada a dois.
Era terrivelmente estranho estar a ouvir um homem desejar que o seu corpo concebesse de um relacionamento furtivo, e ser ele a ter a primeira suspeita de que algo dentro de si mudava e trepidava o seu lado emocional, trazendo à flor da pele toda a sua fragilidade feminina própria de uma conceção virginal, pois nada fazia prever que um dia estivesse mesmo grávida, apesar do relacionamento que mantinha secreto e fugaz.
 Era uma flor em botão num campo de espigas doiradas, papoila enrubescida em agreste sentir, seara queimada de sol inebriado pelo canto das cigarras, independente e solitária, presa a uma promessa que iludia passado e presente, como se o futuro não existisse no tempo.
Os anos iam passando e ela acomodava-se no destino que a mantinha segura e confiante nos dias que repartia com o trabalho e a solidão, essa sim a entendia em todas as suas desesperações e aspirações, rejuvenescia pela sua vida dupla, carimbada de fantasias e sublimações que lhe ofereciam passagem pelo túnel do tédio, não eram mentiras ou enganos propositados, apenas se deixava levar pelos caminhos da vida, e pela surpresa de todas as intenções.
Aquele telefonema mudava razões e sentimentos, assentava como tijolos empilhados sobre sensualidade e ilusão, arrumando todos os sentidos numa argamassa invisual que camuflava qualquer história de vida menos desprezível que a sua.
Voltando ao telefonema, ficava muda sem saber o que responder, foi sentido tão intensamente por dentro, como se previsivelmente fosse possível decidir sobre um assunto tão melindroso, era até engraçado ouvi-lo sonhar sobre esse desejo de ser pai, querendo somente que fosse uma menina.
Atendeu-lhe o telefone e a meio da conversa arranjou pretexto para lhe falar da outra mulher, dizendo-lhe que tinha uma coisa para lhe contar e pedindo que a ouvisse dando-lhe atenção.
Vais-me dizer que estás grávida. Do outro lado da linha sentiu-se corar de excitação, estupefacta pela calma e descontração na voz e na meiguice das palavras, veio-lhe à memória um sonho antigo, pensamentos que a assolaram em sonhos e instantes de lembranças de um leito partilhado de suor e desejo, como premeditação de um destino que a tentava em mudança para o reino da felicidade.
Era a responsabilidade do prazer e a liberdade desse lençol de afetos sem culpa nem compromisso, que unia os dois numa cumplicidade sem limites, num entendimento acima de tudo o que vertia ânimo saudável e generoso para ambos.
Normalmente é sempre o contrário, aquela alucinação momentânea em que se descobre a verdade e se tem que encarar a consequência do ato responsável aos dois, mas muitas vezes negado pelo elemento másculo da questão, aquele momento tão difícil de partilhar porque sempre se tem a noção que a responsabilidade é da mulher que se deixou engravidar, que terá que assumir sozinha essa situação e decidir muitas vezes na solidão do seu tumultuoso estado emocional, a sua responsabilidade em ter-se deixado seduzir abrindo caminho aos espermatozoides libertinos que a invadem numa ameaça de vida num arrebatamento de gozo e satisfação.
Seria uma premonição. Seria possível ter ficado grávida de um desses instantes de amor transitado em mãos e olhares, bocas e dermes resplandecentes de suor saliva e sémen, sémen esse que se anichou nas suas entranhas e adormeceu secreto em colo de óvulos dando início ao mistério da vida.
Magia maior que assim acontecia na voz tranquila do outro lado da linha e lhe contaminava a alma de serenidade poesia.
Ria desenfreadamente todas as insinuações e suposições que lhe invadiam o tímpano, sorrindo como uma adolescente apaixonada, era como se estivesse a receber o mais romântico pedido de casamento, ou mesmo o pedido de um filho, qualquer mulher é obrigada a sentir-se feliz perante um pedido desses, abraçando a maternidade com o coração exultando de alegria e jubilo qual graça concedida pela paixão sentimental.
Deve ser igual ao primeiro beijo. Mas… e essa ousadia de ser mais mulher ainda, confiando à maternidade a nudez de todos os sentidos, na envolvência secreta da sua idade muito além do aceitável para ser mãe. Ela que nunca engravidara, nunca sentira o ventre crescer nem nunca tivera que colocar essa dúvida a si mesma, será que estou mesmo grávida e nem sabia… e a idade… e a vida… o que importa nesse momento, qual a razão para negar uma vida que quer crescer dentro de si, e o amor… como se pode fazer um filho sem o amor… apenas deixar-se ser levado pela única razão, o fogo sem limites da sedução, pelo prazer de viver.
Se estiveres grávida podes contar comigo para tudo. Cumprirei com todas as responsabilidades de pai e de companheiro e sobretudo de amigo, sempre.
Parecendo insensato mas justamente mais revelativo do sensato que seria ter que assumir uma maternidade tardia, o primeiro filho, a multiplicação de todos os seus sentidos, parte da sua alma, do seu corpo, do seu ser, em partilha com o homem que tanto a acalmava por dentro numa desinquietação tranquila, em desassossego de vontades, já que nunca nenhum homem a tinha deixado assim, superando todas as faltas que lhe acompanhavam a vida.
Não sabia se estava grávida. Algo dentro de si crescia desenfreado, tomando o seu próprio rumo, mesmo que ela negasse a si mesma, sabendo que esse segredo nunca o partilharia com ele, deixava que as palavras de um conto de emoções gerissem sentimentos perdidos no tempo.
Olhava para a sua escrita qual teste de gravidez, e tentava decifrar a pontuação para positivo ou negativo, conforme fosse essa a vontade de um Deus.
anabarbarasantoantonio

quinta-feira, 12 de julho de 2012

SOPROS SECREÇÕES


Estala a pele macia
Sombria membrana da noite
Desassossega trémula e fria
Baforadas de medo no açoite
Em floreado colorido
Desperta o sentido
Cristal saudade
Ardente ofegante indiscernibilidade
Cumpre-se a palavra no hálito do verso
Sopros secreções em docilidade
Sombras envolvem o reverso
Da tímida escuridão
Manchada de ocasos
Onde a ira quebra lágrimas em vasos
Pairam pensamentos destilados poesia
Sobejam os sentidos pálidos
Na futilidade da heresia
Secam-se todos os prazos
Fumega a fantasia
Nas secreções lacrimais
Em ânsia sente-se o fremir
Na agonia do sentir
Elevam-se odores corporais
Como respiração de vendavais
De versos intemporais
Solta-se o beijo de todas as manhãs
Em diagonal secreção
Nas palavras vãs
No inferno da razão
Sopra o sentir
Húmido
musa

quarta-feira, 11 de julho de 2012

ALMA CARMESIM

Tua alma pelas escadas
Sobe tranquila na sua ascensão
Eleva-se mortal passo a passo
Até ao templo da redenção
Trespassa leve nas arcadas
Tomba na pedra frio regaço
Acolhendo entrada carmesim
Onde outras estão guardadas
No eterno limbo à espera de mim

Sossega a alma entristecida
Desassossegado corpo laço e ledo
Acenas das escadas em despedida
Eleva-se do ser em segredo
No mistério maior da vida
Entre a paz e o medo
Na serenidade sentida
Despe o vestido vermelho
Deixa as vestes pela escadaria
Na escada fria sobe ao templo
Onde destas palavras te contemplo
Em passos de poesia
musa

sexta-feira, 6 de julho de 2012

ALMA CHEIA



Enches-me a alma de vida

Venho dizer-te
Há pássaros pousados sobre o silêncio
Escuto-os no sussurrar dos pensamentos
Onde se cala a nostalgia
Do passado

Há olhos fincados nas brechas abertas
Pela brisa desperta nos sentidos
Fendidas luminosidades secretas
Agitam-se sonhos humedecidos
No sono dessa alma cheia
Presa corpo na teia
Olhar que te conta de mim
Adormecida assim

Quero que me escutes baixinho
Ouças o que tenho para te dizer
Nesse grito abafado pelo caminho
Que silenciada enchente de prazer
Abarrota a vida e o destino
Onde fica a escorrer
Alma cheia
Sem fim
musa