quinta-feira, 28 de agosto de 2014

A MULHER QUE CHORA

Que linda mulher oriental
De olhos cor de uva
Tão humana tão carnal
Pareciam amendoados
Mas não
São bagos
Ainda orvalhados
Pelas lágrimas que os turva
Em tarde de chuva no fim da estação
O dia queima a madrugada fria
Toma se de cores em solidão
Póstuma a tarde macilenta esfria
Lágrimas de uma mulher em sofreguidão
Na tela é a luz que chora
As tintas esborratadas
Trazem à cor a confusão
Na mescla dos olhos de uva
Onde a tristeza se demora
As cores assim desmaiadas
Prolongam dos riscos a curva
O tempo que não tem mais hora
As lágrimas imortalizadas
Da mulher que chora
...

musa

MIGRAREI

Calam se os rios salgados
Em margens de vagas de brumas
Estalam sobre as pedras espumas
Há na flor da água penas
Onde tombam pétalas de açucenas
Migrarei os olhos cansados
Ao rio que se faz mar
Nas ondas desmaiadas serenas
Que ao areal vêm descansar

Tenho no sangue o chão sentimento
Nas mãos que desbravam o papel
Nos sulcos da escrita o pensamento
Que lavra o instante que me cobre a pele

Migrarei com as aves dos oceanos
Onde todos os amanheceres me desperto
Dos sentidos terei todos os tamanhos
No olhar viagens que nunca fiz
Mas em poemas sempre fui feliz
Não fui aos pólos gelados ao equador nem ao deserto
Mas da terra tenho o sentir da palavra mundo
A imaginação que em poesia desperto
De toda esta migração de amor profundo
De tanto que amo viver
Porque a vida é um prazer
...

musa

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

SÃO ELAS – a EDGAR DEGAS (Ballet Dancers)

perdidas em palco confusas
são elas nenúfares inocentes
pequenas pétalas difusas
em passos de dança surpreendentes

são elas ainda saltitantes
inebriadas pela doce luminosidade
no palco da vida expectantes
entre a luz e as sombras cumplicidade
pequenas flores dançantes
de tenra idade

são elas rodopiando bailarinas
em pontas de pés no espanto
do cenário emoldurado de meninas
o quadro de Degas que encanto
onde aprisionada tanta beleza
que o riso da memória tinge em pranto
na pintura em tanta singeleza
...

musa

terça-feira, 26 de agosto de 2014

SENSÍVEL SENTIR

SENSÍVEL SENTIR
sou vaga
sal
sensível amarga
andorinha pardacenta
trémula asa a esvoaçar
penas salgadas pranto
anima carnal
sou a cor magenta
do entardecer a desmaiar
crepusculo encanto
riso perdido
temperamental
sou casulo escondido
asas do espanto
onde deixas o sentido
quando te sentes mal
e o dia escurece
a madrugada fria
aguça o punhal
a claridade desfalece
entontece esfria
sensível sentir
sideral
sangue esmaece
nas veias pulsantes
aos olhos distantes
foge a solidão
há fogo no horizonte
choro de paixão
carnal dor
a escorrer da fronte
onde morre a ilusão
do amor
...

musa

FLOR SILVESTRE - Parabéns Alzira Santos

Parabéns Alzira Santos

Feliz aniversário

Trazes no peito braçadas de palavras a sorrir
Numa explosão de emoções quando declamas
Essa sentimental poesia que tanto te faz sentir
Em cada verso o sentido corpo alma derramas

Doce portuguesa em bucólica paisagem agreste
As pedras do pensamento erguem-se soberanas
Há nas tuas mãos preso aroma da flor silvestre
O chão de Portugal coração do que tanto amas

São cantigas danças pregões histórias e orações
A emoção amor que ainda ensinas e vais aprendendo
Partilhas a sabedoria na multiplicação dos corações
Quando num poema em flor o âmago de ti vais lendo
...

musa

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

AO RIO QUE CORRE

AO RIO QUE CORRE

Gastei um rio para te ver. Afundei margens na terra mansa, escavei brisas sobre as águas folheando vagas em ouro de entardeceres, risquei brumas nas pálidas sombras da claridade turva das chuvas, onde o brilho de estrelas cravejava citinlante choro a lembrar orvalho de amanheceres nascidos para te sentir.
Sei dos silêncios que me escondes onde a tua ausência soluça a clareira dos impossiveis, as esperas prometidas a um tempo sem mensagem, e ainda que eu possa inventar todos os consolos e cenários imagináveis, sabes que fico sempre só, o olhar parado fitando o o nada, a espera onde nunca vais chegar.
Ungi as mãos na nascente da saudade. Fiz-me a um caminho até à foz, onde não sei mais das alamedas abraçadas de plátanos, amoreiras, tilias e gravatas de roseiras bravas a nascer dos canteiros quase sepultura dos sonhos por florir.
Não chegam altares nem cirios acesos de lágrimas e risos e rendas e folhos e cambraias a forrar as lembranças do temporal que se abate sobre as palavras onde nenhum lugar lá quis ficar mais do que verso ou poemas na prosa enfeitada de memórias e gritos. Talvez seja o rio a correr nas enchentes que brindam a Primavera da vida e renascem as rosas desabrochadas de lamentos quando sinto a tua falta.
Se um dia voltasses e o barqueiro te deixasse passar. Todas as tardes, faço manhãs como se o dia fosse a moeda paga por esse delito, e deixo na ombreira da porta do desassossego como que aberta às águas que correm os detritos dos sonhos, as mágoas húmidas esquecidas, perco-me nos dias que ainda não vivi e fujo das recordações guardadas no pranto dos sentidos.
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musa

ROSA DA INFÂNCIA - Parabéns a MARIA ALBERTA MENÉRES

Parabéns Maria Alberta Menéres

São histórias berços versos
De uma infinidade de gerações
Dos livros as palavras universos
A acender estrelas nos corações

Que feliz infância eu posso recordar
As leituras divertidas da tua imaginação
Aprendi contigo o verbo amar
Que ainda guardo no coração

Eterna ficas do que aprendi
A obra magistral enquanto criança
O ensinamento do que senti
Deixo-o em poesia doce e mansa
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musa


Feliz aniversário

AGORA - ERNESTO CORTAZAR - Autumn Rose(Romantic piano)


"Hoje apetecia-me fazer amor contigo, masturbando-te o corpo e a alma..."

Apetece romper o tempo deixado lá atrás
Resgatar o agora no silêncio dos teus lábios quietos
No beijo mordido entredentes mordaz
Resvalar nas tuas mãos com desejos secretos
Como se não houvesse amanhã
Na quietude dos pensamentos despertos
Colhes o beijo da madrugada em boca de romã
A pele orvalhada cheirando a maçã
E o nosso sentir misturado amor corpo e alma
Deixado fluir agora no esplendor do sentido que acalma
O hoje que fere de vontade e paixão
E sangra as nossas vidas de esplendorosa sólida dolorosa solidão
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musa

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

QUERO - Aguenta Coração

~
QUERO

Quero debaixo do lençol
Como se a espuma do mar
Fosse a minha pele
Debaixo de um céu azul de sol
Tivesse a maresia do teu olhar
Amendoado de doce mel
Em vagas a cintilar

Quero ainda o teu abraço
Em estreitar profundo
A proteger me do mundo
A embalar o meu cansaço
Das ondas de tristeza e solidão
E ter na minha a tua mão

Quero o teu colo o teu regaço
Não sei se amor se a paixão
Sem promessas nem despedidas
Como se esse juntar de vidas
Fosse da alma a gratidão
De assim mansamente viver
Todo este nosso intenso eterno querer
Das coisas da vida e do coração
...

musa

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

VISITAÇÃO

VISITAÇÃO

Visitei os teus olhos sem querer
Entrei a alma por caminhos perdidos
Como se nesse instante fosse acontecer
Ver em ti todos os meus sentidos

Os campos verdes perto do mar
Tinham as lágrimas dos teus olhos humedecidos
Como se as folhas ousassem chorar em bramidos
Sobre a flor das águas risos de sal consentidos
As árvores vestidos verdes aos folhos
Brancas espumas a ondear
Vagas do teu olhar
Em visitação

A terra e o mar ténue linha da solidão
Além de todos os ventos para lá do horizonte
Havia nos teus olhos quase queixume e ternura
Nas lágrimas tombadas em marés de loucura
Uma ilha azul com duas estrelas na tua fronte
Como abertas janelas em ti
Onde a saudade desponte
O que nunca senti
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musa

terça-feira, 12 de agosto de 2014

RINDO COM LÁGRIMAS - Robin Williams R.I.P.

Trago risos nas fendas do sentir
Rindo com lágrimas de mel
Há nos sulcos humedecidos da pele
Lágrimas de choro a sorrir
Sorrisos deixo cair
Na folha de papel

Quantos mais encurtarão o caminho
De assim fintar o destino
A vida feita de fel

Há um coração que bate desenfreado
Rodopia o sentido sem razão
O ser solitário despedaçado
Sorri e chora a solidão
Que ninguém vê e sente
Só ele pressente
Até desistir
De lutar

Ri... porque um dia havemos todos de chorar
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musa

domingo, 10 de agosto de 2014

LUA

Lua ... Tem um nome secreto profundo
Avança mansa na noite escuridão
Corre pelos quartos de todo mundo
Carregada branca e nua luz solidão

Tão cheia enorme que enfeitiça
Pendurada em longínqua distância
Verão que o calor afogueia atiça
Assim vai a lua que pula e avança

Super Lua nesse céu infinito
Das noites quentes encantadas
Do lobo imagina se o grito
Andam sorrindo doces fadas

9 AGOSTO 2014
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musa

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

MANHÃ DE CHUVA


O campo amanheceu de orvalho e luz
Húmida triste desvanecida claridade
Onde a chuva fria se espelha e reluz
Nas folhas molhadas luz e frialdade

Cheira a terra quente o molhado Verão
Não longe do mar esse espelho azulado
Que a chuva turva a luz da ondulação
Em dança com o vento frio encrespado

Maritimo deserto da terra perto do mar
Que odor mais perfumado esse da maresia
Em amanhecida chuva luz despertar

Agosto não é mais afogueado luminoso estio
Reflectindo a luz chuvosa em pranto poesia
Amanhecido o dia húmido e frio
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musa

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

DÁDIVA

DÁDIVA

A luz acesa no âmago do ser
Que dádiva mais humilde e sentida
A mão aberta ao iluminado entardecer
Assim se finda o dia e cumpre a vida
As mãos em dádiva e claridade
Em entrega consentida
O fogo do sentir e cumprimento
Em luminosa intensidade
O clarão profundo do sentimento
Dádiva oferecida
Em gratidão do pensamento
Aos céus sobre a terra amanhecida
Na maior luz do mundo e do tempo
...

musa

terça-feira, 5 de agosto de 2014

SECRETO PASSADO

SECRETO PASSADO

O Verão era uma porta aberta a um encontro de raizes onde o passado se entranhava de memórias crivadas de saudade. Sentia-o na pele fibrosa das lágrimas escondidas pelo encanto das esperanças semeadas na eternidade, o caule erguido bandeira testemunho de todos os sentidos em perpétuo desenlace de todos os sentimentos, eternos como os sulcos rugosos das mãos com cheiro a terra e melados de açucar imaculado, odores sepultados no chão de cultivo e cheiros de bafos gentis de animais domesticos, na pacatez da aldeia aprisionada na bola de cristal em amniótico envolvimento de estio e neve, e na bruma rendilhada do pensamento desvanecido em pranto de sentir.
As casas de pedra com varandins de madeira e alpendres de sonho e escadas de sossego e baixos de sustento provinciano, e pavios acesos contra a sombra dançante das labaredas esmaltadas nos muros caiados de negro silêncio nas noites compridas e madrugadas quietas, e gritos abafados de ventres rebentados a desoras, inoportunos em alcance da vida adormecida no seio da escuridão, nas horas rebentadas dos caldeiros sobre as brasas fumegando vapores perfumados de pinheiro e secas giestas desfloradas.
E o cão d’água uivando o dia amanhecido nas goteiras pingando orvalho das estrelas, em enredados caracois cor de tição roubado aos borralhos esquecidos dos ninhos abandonados pelo atraso do tempo nas famintas lides de erguidos abraços em oração da manhã, uiva em cantoria com o sino da igreja da perdida aldeia transmontana em secreto instante da lembrança soando as badaladas escondidas no âmago do ser.
Na alma o sino da manhã, a sua Ressurreição, o tinido do Ângelus, o sino faz ribombar sua voz pela manhã, dá o sinal do despertar, da oração e do trabalho, e ao meio-dia a sua Ascensão, adverte o homem de que a metade do dia é passada, e que a sua vida não é mais que um dia. À tarde, toca três vezes, para recordar as três Pessoas da Trindade, às quais o mundo é devedor da Encarnação, canta o princípio da Paixão do Redentor no Jardim das Oliveiras, toca ao recolhimento e ao repouso.
Diz ao homem: faz as tuas contas com Deus, pois esta noite talvez Ele exigirá a tua alma.
Fazendo ouvir a sua voz três vezes por dia, recorda aos cristãos as lembranças de um glorioso passado, essas belicosas expedições, a honra eterna dos Papas, que salvaram o Ocidente da barbárie muçulmana.
Toca nove vezes, em honra dos nove coros de anjos, para convidar os habitantes da Terra a abençoar com eles o seu comum benfeitor.
Entre cada tinido - ou melhor, entre cada suspiro - deixa um intervalo, para que sua voz desça mais suavemente ao coração e desperte com mais segurança o espírito de oração.
Os sonhos ficam entregues nas mãos dos anjos. O passado é um cão negro que vagueia por caminhos e montes em busca de recordações capazes de moldar palavras em forma de sentidos.
A avó desce das estrelas e senta-se no colo dos sentidos, continuando a moldar flores de açúcar em doces celestiais.
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musa

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

ESTRADA SEM FIM

De onde nasci até onde me criei
Estrada por vales e montes
Meu país natal

Cortei o cordão umbilical
Soltei amarras de searas e olival
Desatei os nós da alma carnal
Onde presa sentia a vida

Nos montes onde estevas floridas
Largam o mel das brancas flores
Entre giestas de sol vestidas
Rasteiro manto de tempestivas dores

A vida entre pedras e pranto
Uma estrada sem fim
Nas bermas florido encanto
Dias e chão sentido em mim
E o desamor do asfalto quente
No estio dureza
Que assim me sente
Montanhosa subtileza
Raiz contudente
A alma ilesa

A vida sou eu
A estrada fora
A luz do passado
Entre a terra e o céu
E esta saudade que se demora
Nos caminhos sem hora
Em alvorecer aurora
Que eu nunca vi
Há um grito amordaçado
Porque parti
Do chão que me viu nascer
E me fendi
Em sentir e em ser
Despedaçado
...

musa